sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Tão verdadeiro...
Li isto num blog e não pude deixar de o copiar para aqui...senti e sinto tantas vezes esta guerra...
"Na padaria duas mulheres conversavam. Uma nova e uma menos nova mas ambas velhas na postura. A mim, estranha na terra, coube-me esperar, conformada que nestes sítios as conversas alimentam mais que pão. A nova, cheia de certezas falaciosas era narradora e protagonista e a história passava-se ali na aldeia como podia passar-se na cidade, com gente simples ou com gente esclarecida. Mãe de uma filha em idade escolar proclamava a sua raiva contra o Zé, com quem outrora tinha partilhado a cama, por ele agora ser mau pai. Mau pai, repetia ela, que nunca o aceitaria de volta e nunca 0 deixaria ver a filha enquanto ele não pagasse metade dos fatos de treino e dos livros da pequena.
Desconheço as razões do Zé mas conheço bem, e na pele, os efeitos de uma má mãe em guerra com um mau pai. Estraga-se uma família só, é certo, mas mina-se sobretudo a inocência de crianças que deveriam ser afastadas desta guerra de adultos. Desconheço a quantos minutos de visita equivalem um lápis, se um caderno da Hello Kitty compra um almoço com a filha ou se um fato de treino da Nike dá para um fim-de-semana a dois. Mas sei que daqui a uns anos a pequena não terá nenhum caderno antigo, não se lembrará da maioria das roupas objecto de quezílias e nunca, nunca mesmo, se irá esquecer das guerras de pingue-pongue dos maus: mãe e pai.
E as duas senhoras, por acharem que todas as mulheres são cúmplices na bestialidade, olharam para mim pela primeira vez e encomendaram-me opinião.
“ Se eu tivesse um filho, pela sua felicidade, estaria disposta a engolir muitos sapos. Todos. Mas isso sou eu, que não sou mãe e por causa de guerras como essas, também não me sinto filha. E queria um pão mal cozido e duas arrufadas, se faz favor.”
Só quando cheguei a casa é que percebi que as duas senhoras não gostaram de ouvir o que eu disse. O pão estava queimado e as arrufadas eram do dia anterior. Mas também isso eu vou esquecer daqui a uns dias. Já esqueci."
"Na padaria duas mulheres conversavam. Uma nova e uma menos nova mas ambas velhas na postura. A mim, estranha na terra, coube-me esperar, conformada que nestes sítios as conversas alimentam mais que pão. A nova, cheia de certezas falaciosas era narradora e protagonista e a história passava-se ali na aldeia como podia passar-se na cidade, com gente simples ou com gente esclarecida. Mãe de uma filha em idade escolar proclamava a sua raiva contra o Zé, com quem outrora tinha partilhado a cama, por ele agora ser mau pai. Mau pai, repetia ela, que nunca o aceitaria de volta e nunca 0 deixaria ver a filha enquanto ele não pagasse metade dos fatos de treino e dos livros da pequena.
Desconheço as razões do Zé mas conheço bem, e na pele, os efeitos de uma má mãe em guerra com um mau pai. Estraga-se uma família só, é certo, mas mina-se sobretudo a inocência de crianças que deveriam ser afastadas desta guerra de adultos. Desconheço a quantos minutos de visita equivalem um lápis, se um caderno da Hello Kitty compra um almoço com a filha ou se um fato de treino da Nike dá para um fim-de-semana a dois. Mas sei que daqui a uns anos a pequena não terá nenhum caderno antigo, não se lembrará da maioria das roupas objecto de quezílias e nunca, nunca mesmo, se irá esquecer das guerras de pingue-pongue dos maus: mãe e pai.
E as duas senhoras, por acharem que todas as mulheres são cúmplices na bestialidade, olharam para mim pela primeira vez e encomendaram-me opinião.
“ Se eu tivesse um filho, pela sua felicidade, estaria disposta a engolir muitos sapos. Todos. Mas isso sou eu, que não sou mãe e por causa de guerras como essas, também não me sinto filha. E queria um pão mal cozido e duas arrufadas, se faz favor.”
Só quando cheguei a casa é que percebi que as duas senhoras não gostaram de ouvir o que eu disse. O pão estava queimado e as arrufadas eram do dia anterior. Mas também isso eu vou esquecer daqui a uns dias. Já esqueci."
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